CARTA
PASTORAL AO 122º CONCÍLIO DA DIOCESE MERIDIONAL
Sigamos, pois, as coisas que servem para a paz
e para a edificação de uns para com os outros
(Romanos 14:19)
Queridas
irmãs e queridos irmãos do Clero e Laicato
de
nossa Diocese Meridional, da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil.
Graça
e Paz da parte de Deus nosso Pai Materno e do nosso Amigo e Senhor Jesus
Cristo:
1. O
versículo escolhido como motivação espiritual para nossa 122ª reunião conciliar
pode ser traduzido literalmente do grego da seguinte forma: “Assim, pois,
sigamos a paz e construamo-la uns(umas) nos outros(outras)”. Entendo que o
apóstolo Paulo convoca a comunidade cristã de Roma a ser acólita da paz, isto
é, seguir, acolitar a paz, construindo-a não em si mesmos(as), mas nas outras pessoas.
Eu vejo o ministério de acólitos e acólitas como uma das expressões mais belas
do ministério cristão. Nem sempre estas pessoas são crianças, e não é por causa
disso que me refiro a sua importância. Vejo nestas irmãs e irmãos o humilde
desejo de ajudar, de facilitar o ministério do clero (com a não fácil tarefa de
lidar com as manias de cada reverendo ou reverenda). Vejo neste ministério o
que este versículo quer nos comunicar, isto é, acompanhar, ser companheiros e
companheiras de outras pessoas para que juntos e juntas encontremos a paz!
2. Por
isso também me entristece quando vejo que algumas comunidades não têm acólitos
e acólitas. Neste caso quem celebra - que posso ser eu mesmo - se apresenta autossuficiente,
e até parece que a presença de outra pessoa com o simples desejo de ajudar
fosse atrapalhar a sublime tarefa que poucas pessoas podem exercer no sagrado e
proibido espaço do altar. Esta na hora, minhas irmãs e irmãos, de quebrar estas
coisas que criam afastamentos e isolamentos, criando abismos e muralhas. Esta
na hora, e já é tarde, de nos ver mais refletidas e refletidos no ministério de
acólitos e acólitas do que no ministério de celebrantes e oficiantes. Assim
como as acólitas e acólitos olham para quem dirige a liturgia esperando um
sinal para ajudar em alguma coisa, assim como resistem às queimaduras de uma
vela ou seguram a Cruz procissional abnegadamente durante a leitura do
Evangelho, assim deveríamos encarar cada tarefa, cada oportunidade, cada
ocasião de servir a Deus em todos os nossos ministérios, que toda pessoa cristã
assume no batismo e na confirmação.
3. Como lema foi escolhido, a partir do que foi
apontado pela CONFELIDER DIOCESANA em Outubro do ano passado, a frase: “De mãos
dadas no compromisso de sustentar e viver a Missão de Deus”. Também aqui vejo com
alegria o ministério de acólitos e acólitas. Elas, mesmo sem dar as mãos fisicamente
estão sempre unidas àquelas pessoas que querem servir, com a única preocupação de
que tudo dê certo. Será que há outra forma de sustentar e viver a Missão de
Deus do que nos ligar mutuamente pelo desejo de servir, amar e ajudar? As mãos
dadas não podem ser apenas um momento, tem que ser um símbolo. Devemos, como
diz o cântico, “segurar nas mãos de Deus”. Mas como segurar a mão de Deus se
não segurarmos a mãos de outras pessoas, seja para nos ajudar impulsionar na
dificuldade, seja para usar nossa força em favor de quem precisa um apoio?
Citando a pergunta que apresenta a Primeira Carta de João, no capítulo 4,
versículo 20:
“Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a
seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode
amar a Deus, a quem não viu?”.
4. Não
posso pensar apenas em minha comunidade ou minha paróquia, no que é fácil para
meu grupo, mas sempre pensar em nossa diocese, nossa igreja provincial, nossa
Comunhão Anglicana, e em todas aquelas pessoas que poderiam ter encontrado o
amor de Deus em Cristo e não o fizeram porque estávamos cheios de preocupações
com nossa própria tranquilidade e não com a verdadeira paz. A paz se dá, e
vocês sentem isso, quanto cantamos e vivemos nas comunidades o fato de que “quando
olho em você e vejo em você a paz do Senhor”. Esse “você” é sempre a outra
pessoa, e quando vejo paz nas outras pessoas vejo a Paz do Senhor!
5. Quero lhes dizer que após um ano de
caminhar entre as comunidades de nossa diocese, entre as colegas e os colegas
do clero, entre ministros e ministras do laicato, entre crianças, jovens,
pessoas adultas de todas as idades, vejo que Cristo está presente, se
manifestando em sorrisos, orações, lágrimas, abraços, disposições, generosidades.
O que me preocupa - e me incluo aqui - e que nos esquecemos de que a Igreja não
existe para nós, as pessoas que já estamos nela, mas, principalmente, existe
para as pessoas que precisam dela onde ela não está. Neste sentido foi muito
importante, nos mutirões de avivamento, ficar sentado no meio do povo, e quero
repetir isso quantas vezes me seja possível. Vejo que quando a gente cai neste esquecimento,
quando vemos a igreja exclusivamente da nave ou do altar, começamos a pensar: para
que transformar missões cinquentenárias em paróquias? Para que nos esforçar em
termos mais um clérigo ou clériga que oriente e anime a comunidade que hoje não
tem? Para que nos capacitar no ministério leigo e usar vestes que representam o
ministério de serviço, louvor e evangelização? Vamos deixar tudo como está,
estamos bem, já temos tranquilidade, para que arriscar-se a perdê-la indo em
busca de novos desafios?
6. Pode
que a ausência de acólitos e acólitas em nossas comunidades seja um sinal de que
desistimos de construir a paz e que buscamos apenas a tranquilidade. Pode que a
ausência de abraços da paz em nossas liturgias indique que não acreditamos que
tenhamos capacidade de promover a paz na vida de outras pessoas. Será? Espero,
em Cristo, que não seja assim. Essa tranquilidade eu não quero, e você? Quero
paz, a paz de mãos dadas, a paz que sustenta, levanta, segura, aperta, anima,
une. Como um simples seguidor de Cristo eu não posso pedir nada que não deva
exigir de mim mesmo. Então não lhe peço nada, a não ser que olhemos para as
acólitas e acólitos e tentemos viver nossos ministérios no mesmo sentido do
seguimento.
7. Irmãs
e irmãos, não podemos continuar sendo a igreja do mesmo jeito de sempre fomos,
mas sempre devemos ser a mesma Igreja de Cristo de novos jeitos. Onde está
Cristo para que o sigamos como igreja? Será que não deveríamos todos os dias
caminhar pela rua, pela nossa casa, nos locais de trabalho e de estudo e
perguntar isso: onde está Cristo para que o sigamos? E, ao descobrirmos as
respostas, não deveríamos ser pessoas desejosas e alegres em ir para a igreja,
como quando a acólita e acólito entram rapidamente na sacristia, esperando nos
encontrar com as irmãs e irmãos, encontrar nosso Senhor na Palavra e
Sacramentos, e compartilhar, no poder do Espírito Santo, estas descobertas em
nosso louvor, nas orações, na reflexão, nos abraços, nas partilhas, nas mesas,
no serviço solidário?
8. Neste
Concílio vamos falar e refletir sobre a necessidade do compromisso com o
planejamento como caminho para sustentar e viver a Missão de Deus. Vamos pensar
se através de metas, isto é, de desafios que entendemos sejam possíveis de
executar, podemos encontrar este jeito novo, este jeito acólito, de ser a mesma
igreja. No entanto, quantos planejamentos e quantas metas já estabelecemos?
Quantos foram simplesmente esquecidos no ano seguinte ou no outro? Por quê?
Hoje me atrevo a lhes dizer, inspirado pelo versículo que motiva este 122º
Concílio da Diocese Meridional, que é porque perdemos o sentido de ser uma
Igreja Acólita! Perdemos o sentido de seguimento, de entrega dos dons e
possibilidades que são graciosamente doados por Deus para cumprir aquelas metas
que o Senhor nos estabeleceu. Destas grandes metas destaco duas:
a) Servir
o próprio Cristo nas pessoas excluídas, que chamamos de diaconia ou serviço, magistralmente
resumida no texto sobre o julgamento final em Mateus 25:31- 46, citando aqui os
versículos 38 a 40, e 45:
E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? ou nu, e te
vestimos?
E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos
ver-te?
E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos
digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes
(...) então lhes responderá, dizendo: Em verdade vos digo que, quando a um
destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a mim.(Mateus 25:38-40.45).
b) Evangelizar
com Cristo, no poder do Espírito Santo, para que a vida das pessoas e dos povos
seja transformada através da Palavra e dos sacramentos, sendo que aqui vale
apena, para não esquecer, citar de novo, em Mateus 28:19-20, a chamada “grande
encomenda”, ou o “grande desafio”:
“Portanto ide, fazei discípulos de
todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;
ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu
estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos”.
9. Só
assim, queridas irmãs e queridos irmãos em Cristo, podemos ser uma Igreja
Acólita. Mas, para poder realizar estas grandes metas, precisamos estabelecer
pequenas metas de sustento da igreja. Não sustento apenas do que está (o que já
é um grande desafio), mas, como ato de fé no Senhor Ressuscitado, buscar o
sustento do que precisa ser alcançado para sermos mais presença de Cristo onde
estamos, e passar a ser presença de Cristo aonde ainda não chegamos. Essas
metas não podem ser “sonhos” ou “utopias”, não é que sonhos e utopias não sejam
importantes, estes são horizontes para as quais a gente caminha sem nunca
chegar. Sonhos e utopias nos fazem caminhar, mas se nunca alcançamos nada
cansamos e desistimos, como fizemos tantas vezes. Precisamos de desafios diante
dos quais temos a disposição de trabalhar, de nos organizar, de avaliar,
reformular, criar, construir! É, irmãs e irmãos, Deus está nos chamando a
sermos acólitos e acólitas da Sua Paz, essa Paz que o mundo não pode dar, essa
Paz que nos desacomoda e, às vezes, até nos incomoda.
10. Este é meu primeiro Concilio como Bispo
Diocesano, não quero que seja o último em que tenha coragem de lançar um
desafio concreto para todos e todas. Desejo profundamente que no ano próximo já
seja possível avaliar os desafios, enfrentar com coragem o que não estamos
conseguindo fazer, celebrar o que Deus nos permitiu realizar, pedir mais do Seu
Espírito para atingir o que ficou para trás e alcançar novas conquistas em Seu
Nome e para Sua honra e glória. Como gostaria de ver em cada comunidade um LEMA
DE SERVIÇO E EVANGELIZAÇÃO construído através de todas as vocações e de todos
os dons que ali se encontram. Quero continuar a participar, a celebrar, a
refletir, a abraçar, a rir e chorar, a comungar, a caminhar, na nave e no
altar, como Bispo Diocesano. Se for como Pai em Deus, que seja como pai servo,
pai irmão, pai colega da missão. Se for como Pastor que seja também como
ovelha, pastoreando em amor, e sendo pastoreado em amor. E que sempre, sempre
mesmo, seja como ser humano, para que vejam em mim, como eu vejo em vocês, a
Paz do Senhor. Que vejamos nas nossas vidas pecadoras, o Senhor operando
milagres, irrompendo em louvores, pedindo perdão, buscando misericórdia, indo
além das forças e colocando pontes em abismos e derrubando muros de isolamento.
Quero ser um bispo acólito em uma igreja de pessoas acólitas, e peço a Deus Pai
Materno, Filho Amigo, Espírito Santo, Ventania Impulsionadora de Criadora, que me
conceda realizar este desejo e construir mutuamente a paz.
Em
Cristo Ressuscitado, e no segundo ano da minha sagração, tempo da Páscoa,
Dom Humberto Maiztegui Gonçalves
Bispo Diocesano
Sugestão de leitura da Carta Pastoral nas comunidades:
1º Domingo – Versículo
motivador, saudação, itens 1 e 2.
2º Domingo – Versículo
motivador, saudação, itens 3 até 5.
3º Domingo – Versículo
motivador, saudação, itens 6 e 7.
4º Domingo – Versículo
motivador, saudação, itens 8 até 10.
Conforme entendam as pessoas
celebrantes ou oficiantes pode ser feita a leitura no começo, como motivação
para toda a celebração ou no final (na hora dos avisos) como reflexão para
levar adiante a Missão de Deus em nossas vidas, dizendo logo a seguir a
despedida litúrgica (“ide na paz de Cristo...”).
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