quarta-feira, 14 de maio de 2014

Origem da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil

Quando as pessoas perguntam pela origem da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB), logo querem saber quem foi o seu fundador. A resposta geralmente encontrada nos livros de história de que foi Henrique VIII não corresponde à verdade, pelo simples fato de que o controvertido rei não podia fundar algo que já existia. A resposta correta é Jesus Cristo. Todas as igrejas históricas tiveram a sua origem nele e se espalharam pelo mundo afora, adquirindo no curso da história características e feições próprias.
Algumas se afastaram tanto de seu verdadeiro fundador, que perderam as suas raízes históricas, sendo por isso consideradas muitas vezes como seitas. Outras conservaram a sua origem e tradição apostólicas. É o caso da Igreja Anglicana, que atravessou os séculos sem perder as suas características, que remontam aos tempos dos apóstolos.
A origem da IEAB foi fruto da expansão do Cristianismo nos primeiros séculos, que alcançou primeiramente as Ilhas Britânicas, passando depois pelos Estados Unidos no século XVII e chegando finalmente ao Brasil em 1890.
Supõe-se que o Cristianismo chegou à Inglaterra por volta do século III. Nessa época, o território inglês estava dominado por um processo de colonização romana. Os legionários, mercadores, soldados e administradores romanos levaram à colônia as suas leis, os seus costumes e a sua religião. Entre eles estavam provavelmente aqueles que tinham abraçado a fé cristã e oravam secretamente ao Deus verdadeiro, enquanto os seus companheiros prestavam honras ao império, ao imperador e aos deuses das religiões de mistério.
Claro que estamos aqui no terreno das hipóteses e conjecturas. A história não deixou documentos que pudessem provar a veracidade dos fatos. Por isso, nos lugares marcados pelo silêncio da história, encontramos lendas, sagas e tradições, que falam das longas viagens missionárias, que teriam sido realizadas àquela ilha pelos apóstolos Paulo e Filipe e por José de Arimatéia.
A primeira referência histórica encontrada sobre a existência de cristãos na Grã-Bretanha foi feita por Tertuliano em 208 a.D. Tertuliano fala de regiões da ilha que haviam se convertido ao Cristianismo. Pouco se sabe sobre esses cristãos durante o segundo século. O certo é que no ano 314 da era cristã, três bispos ingleses participaram do Concílio de Arles, no sul da França. Os nomes deles eram Eborium, de York, Restitutus, de Londres, e Adelfius, sem diocese determinada, mas provavelmente de Lincoln. Cada um deles estava acompanhado por um presbítero e um diácono. A presença desses antistes e seus companheiros mostra que já havia uma igreja organizada na grande ilha. Embora não tenhamos informações de que os bispos ingleses tivessem participado do Concílio de Nicéia em 325, Atanbásio escreve que a igreja inglesa observava as decisões daquela histórica reunião ecumênica.
No começo do século V, os romanos abandonaram a Grã-Bretanha, permitindo a invasão dos anglo-saxões, que destruíram praticamente todas as igrejas existentes, reduzindo consideravelmente a prática da fé cristã durante quase150 anos. O Cristianismo inglês viveu um período de duras perseguições. Os cristãos foram obrigados a se refugiar nas regiões montanhosas do País de Gales. Ali, desenvolveram a Igreja céltica, tendo como principais líderes São Patrício e São Columba e como centro missionário a abadia da Ilha de Iona, na Escócia. Era um Cristianismo diferente do Cristianismo romano. Em 597, o Papa Gregório I, o Grande, preocupado com a conversão dos anglo-saxões, enviou uma comitiva de 40 monges, chefiada por Agostinho, para converter os invasores. Com a chegada de Agostinho à Cantuária, o Cristianismo céltico ficou como que meio marginalizado. A presença romana não foi bem aceira no início, provocando uma tensa situação. Mas a igreja inglesa aprendeu desde o começo a conviver com as diferenças. A obra missionária iniciada por Agostinho foi consolidada por uma segunda missão romana, liderada por Teodoro de Tarso que, mais hábil que o seu antecessor, conseguiu reunir as igrejas céltica e romana numa só igreja, até a separação provocada por Henrique VIII no século XVI.
No final do século X, os dinamarqueses invadiram a Grã-Bretanha e destruíram quase tudo, deixando a impressão de que Deus havia se ausentado do mundo. Em 1066, houve uma invasão normanda, mas com a diferença de que o rei já era cristão e, por isso, a Igreja foi protegida. Doze séculos depois, a parte inglesa da Igreja julgou necessário resistir à antiga intromissão papal, rompendo definitivamente a sua milenar relação com a Igreja de Roma.
Sinais da Reforma
Os primeiros sinais da reforma inglesa, que vão eclodir na separação provocada por Henrique VIII, em 1534, começaram, na verdade, vem antes com Santo Anselmo (1034-1109). Anselmo só havia aceitado o convite para ser Arcebispo de Cantuária sob duas condições: que as propriedades da Igreja fossem devolvidas pelo rei e que o arcebispo fosse reconhecido como conselheiro do rei em matéria religiosa. A luta que começou entre a coroa inglesa e a Igreja de Roma confirmou, mais tarde, que a Inglaterra fez sua reforma religiosa debruçada sobre si mesma. O fato é que Henrique VIII não fundou uma nova igreja, mas simplesmente separou a Igreja que á existia na Inglaterra da tutela e controle romanos por razões políticas, econômicas, religiosas e pessoais. Durante quase mil anos a Igreja da Inglaterra esteve sob o domínio direto de Roma. Henrique VIII rompeu com essa antiga filiação eclesiástica com o apoio do Parlamento e da própria Igreja.
Separada e independente, a Igreja da Inglaterra continuou sua milenar caminhada na história, alternando períodos de influência ora romanista, ora protestante ou evangélica. Em 1559, começou o reinado de Isabel I, e com ela restauraram-se os controvertidos Atos de Uniformidade e de Supremacia, que devolveram à rainha o mesmo poder sobre a Igreja que tinha Henrique VIII. A era elizabetana foi um período de apogeu. Foi nessa época que começou a colonização da América, onde a Igreja Anglicana se desenvolveu e se organizou principalmente depois da independência americana e 1776, com o nome de Igreja Protestante Episcopal dos EUA. A Igreja americana teve seu primeiro bispo em 1784 e manteve a Igreja livre do poder civil. Assegurada a sucessão apostólica, a Igreja americana se desenvolveu rapidamente, criando dioceses, paróquias e inúmeras instituições. Em 1824, foi fundado o Seminário Teológico de Virgínia, de onde mais tarde saíram os missionários que estabeleceram a Igreja Episcopal Anglicana no Brasil.

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